sábado, 20 de março de 2010


No calendário traça-se mais um dia, menos tempo fica para viver os sonhos que se empilham, e esse tempo que passou tão lentamente permite de forma atroz o acumular dessa saudade neste peito tão cheio de coisa nenhuma. A estação muda de novo, a vida renova-se, o último gelo derrete, a paisagem abandona o desconsolado cinzento, tudo ganha uma nova vida, nova forma, revigorando-se as esperanças tocadas agora pelos agradáveis mas ainda fracos raios de sol. Aqui dentro ainda se vive esse passado cru inverno, na sombra dos dias melancólicos a vida encontra-se ainda em suspenso. No interior ainda reina o tempo de espera, da desilusão de quem sabe que espera em vão, sem esperança. O olhar é o único onde ainda se amparam as esperanças de um dia tocar o intocável, o intangível, de contemplar para além das formas gélidas e rudes da verdade, roçar os limites do possível, talvez do impossível, tocar a tua alma, tão remota que me leva a duvidar da sua existência, fazendo me acreditar que és apenas tu, um corpo sem fundamento, balançando moribundo levado pela corrente da vida, sem opção, sem escolha, tão sem vida.

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